quarta-feira, 27 de julho de 2011

COMO VENCER MIL INIMIGOS



O leitor pode estar pensando que aqui encontrará mais um manual de batalhas no estilo kung fu, aikidô ou similar, mas aqui vai uma advertência: NÃO É.

Não nego que o que inspirou o post de hoje foi uma técnica difundida entre os praticantes de Kendô, ou esgrima japonesa. Porém, o intuito do presente post, é a aplicação da mesma técnica para se vencer os obstáculos e os ‘inimigos’ do dia a dia.

- Tá Raphael, mas que técnica tão ‘maravilhosa’ é essa da qual você tanto fala?

A técnica faz parte do chamado: Fudouchijin-Myouroku (不動知人妙六), que, por sua vez, faz parte do Bushidô (武士道), ou código de honra Samurai (). Basicamente, esta técnica nos ensina que, em nossa mente, deve haver somente UM adversário.

-Como assim? Você não acabou de dizer que essa técnica era pra vencer MIL adversários?

Sim. E é realmente isso que a técnica ensina: como vencer mil adversários como se fossem apenas um.
Explico:

O Leitor, ou Leitora, mais de uma dezena de vezes já se viu diante de uma situação-problema que se subdividia em outras tantas, muitas vezes incontáveis por sinal. Ou se encontrou em algum momento da vida, em uma situação em que tudo parecia dar errado, como se todos os problemas possíveis deixassem para ‘dar as caras’ ao mesmo tempo. Não é?
Pois bem, ‘batalhar contra todos estes problemas de uma só vez, é algo humanamente impossível’ podemos pensar. E realmente é! Enquanto continuarmos a enxergar a todos eles ao mesmo tempo.

O Código Fudouchijin-Myouroku nos ensina que, para se vencer mais de um oponente ao mesmo tempo, devemos enxergar cada um deles independente dos demais. Em síntese: devemos ter FOCO. De nada adiantaria você ter mil braços para enfrentar mil oponentes, se você tentasse vencer todos ao mesmo tempo. Você não iria conseguir focar suas atitudes, e os mil braços deixariam de ser uma vantagem para se tornarem estorvos durante a luta, visto que não serias capaz de ter consciência de todos os mil braços (um para cada oponente) ao mesmo tempo. Afinal, você pode ter uma porção de braços extra, mas a sua mente é apenas uma.
O Código ainda nos ensina que, ao iniciar-se uma batalha contra mais de um oponente, devemos atacar o primeiro que investir contra nós, com tudo o que temos, e só então devemos nos preocupar com o segundo que investir, esquecendo o primeiro com quem lutamos. Quando vier o terceiro, esquecemos dos dois primeiros e o atacamos. E assim sucessivamente. Devemos ter em mente somente aquele que está praticando a ação, desta forma seremos capazes de atacar mil adversários como se fossem apenas um. Porque durante toda a batalha, somente um preocupou nossa mente. Sempre existia apenas um adversário diante de nossos olhos e, portanto, alvo de nossos ataques.

Aplicando este ensinamento a nossa vida cotidiana, veremos que é muito válido ‘atacar’ um problema de cada vez. Não adianta bancar o Super-Homem, ou a Mulher-Maravilha e tentar dar conta de todos eles ao mesmo tempo. Devemos ter FOCO.

O que é mais essencial?
O que necessita de mais urgência para ser resolvido?

São perguntas que podem nos poupar um esforço em vão.

Se um Samurai se preocupasse com todos os inimigos ao mesmo tempo, provavelmente sairia atacando com a espada em todas as direções e se cansaria demasiadamente rápido, o que faria com que perdesse a luta e todo seu esforço tivesse sido em vão.

E nós, pessoas comuns, devemos mesmo ‘nadar, nadar e nadar e morrer na praia’?
Ou devemos ‘gastar’ um tempinho pra decidir nossas prioridades e ‘ganhar’ um tempão executando-as eficazmente?

Reflita. E veja se esse ensinamento milenar não tem mesmo uma aplicação realmente eficaz ainda nos dias modernos.

Uma Boa Noite a todos e a cada um de vocês.

                                        Raphael Convoitise – ABSYNTHE


P.S: Peço desculpas por não estar postando com a freqüência que eu desejo... Estou ‘batalhando com alguns inimigos’, se é que me entendem. =D

sábado, 23 de julho de 2011

Adeus Amy Winehouse













Amy Jade Winehouse
  * 14 de Setembro de 1983, Londres
23 de Julho de 2011, Londres¹


    

    23 de Julho de 2011 será sem dúvida um dia triste que marcará para sempre a vida dos fãs de Amy Winehouse, bem como dos amantes de seu estilo musical que ia desde o Jazz, passando pelo Soul e chagando a uma espécie de Rock’N Roll. Estilo, esse, que abriu as portas da fama para uma sucessão de outros artistas.
Amy, com um timbre inconfundível e inigualável de voz, sem dúvida foi um ícone da música internacional (e ainda é!) e que deixará muitas saudades.

Além de sua voz incrível e prêmios musicais, como os cinco Grammy’s ganhos em uma única edição (algo inédito para uma cantora inglesa), Amy ficou conhecida por seus escândalos públicos e o uso abusivo do álcool e das drogas. Escândalos, estes, que começaram em junho de 2008, quando o próprio pai revelou aos jornalistas que Amy estava com uma possível arritmia cardíaca devido ao uso de cigarros e drogas pesadas como cocaína e heroína.

Em 2010, com o término da ‘reabilitação’, Amy parecia finalmente ter se ‘libertado’ das drogas. E poderia, então, dar continuidade ao projeto do terceiro álbum que tinha seu lançamento previsto para janeiro de 2011. TINHA porque este fato não ocorreu.

Seu último show aconteceu em Belgrado, no dia 19 de Junho deste ano, onde Amy Winehouse foi vaiada por seus fãs sérvios, devido a sua embriaguês nitidamente estampada ao errar as letras de suas próprias canções.  Levando-a cancelar toda a turnê de shows que tinha previsto para este ano. Amy Winehouse chegava ao fim. Já não tinha condições de prosseguir com a carreira.

Agora, o que mais me intriga é o fato de essa fama de ‘alcoólatra’ e ‘drogada’ ter repercutido com mais ênfase na mídia do que seu  talento musical.

Você reparou que, a grande maioria dos fãs pareciam estar mais satisfeitos com aqueles ares e atitudes de ‘rebelde sem causa’ do que com as músicas da tão aclamada Amy?
Porque isso acontecia?
O que havia de especial nessas atitudes que só fizeram mal a ela e a quem a amava?
Nossa sociedade jovem, muitas vezes, me faz ter certeza de que nossos valores estão cada vez mais invertidos. E acho que isso, de certa forma, acabou influenciando a forma de agir de Amy Winehouse, que passou a encarar o problema com alcoolismo e drogas como sendo algo que fazia parte dela, de sua personalidade. O que fez com que, aos poucos e (cada vez mais!), esta estrela mundial do jazz fosse se apagando.

Amy Jade Winehouse certamente deixará saudades. Falar mais sobre esta exímia cantora e a forma lamentável que sua vida foi se esvaindo, seria apenas ‘chover no molhado’.

Um talento entregue as mãos do mundo das drogas e da autodestruição...
Lamentável que isso tenha ocorrido, e gostaria muito de não ouvir histórias semelhantes. Não somente de famosos como ela, mas de jovens que andam por aí, pelas ruas, ao nosso lado. Que são nossos filhos, vizinhos, amigos e irmãos. Pessoas talentosas e, muitas vezes, com alto potencial para se dar realmente bem na vida.

Amy, nossa Pérola da música, fará muita falta na grande concha acústica do mundo.

   Adeus Amy. Que você tenha encontrado o conforto que muitas vezes você deixava claro que estava precisando. E obrigado pela herança musical que deixou para todos os teus fãs.


¹-Amy Winehouse morreu com a mesma idade que Kurt Cobain, Jimmi Hendrix, Robert Johnson, Brian Jones, Janis Joplin e Jim Morrison (27 anos), todos grandes gênios da música. Coincidência?


quarta-feira, 20 de julho de 2011

PRECONECEITO LINGUÍSTICO?



Há algumas semanas que ouvimos falar sobre um livro didático que será (bom, ia ser, não sei se ainda irá...) distribuído nas escolas públicas do país. No qual há graves ‘erros’ de gramática e ortografia.

Segundo os autores do livro, o Brasil possui uma grande variedade regionalista na forma de falar e que, as mesmas deviam vigorar na forma escrita. Bom, acho que fato da variedade regionalista é de conhecimento geral e, portanto, nem precisava ser mencionado, nem mesmo na tentativa de justificar isso que, a meu ver, é um absurdo. Porém o que mais me intriga é a capacidade (leia-se: coragem) desses autores em propor esta, vamos dizer, ‘reforma’ na língua portuguesa ensinada em nossas escolas.

Espere um pouco! Não acabamos de passar por uma reforma ortográfica internacional para aproximar a linguagem escrita dos países de Língua Portuguesa? Então porque modificar nossa escrita, de modo, a diferenciá-la e distanciá-la do objetivo deste recente acordo firmado?

Antes do acordo ortográfico, que começou a vigorar a partir de janeiro de 2009 e levou 18 anos desde sua elaboração até a sua aprovação, documentos internacionais tinham que ser publicados em dois “tipos” de português: o Português de Portugal e o Português Brasileiro. Então com a proposta destes autores, além das coisas voltarem a ser assim (fazendo desnecessário este acordo que levou tanto tempo para vigorar), dentro do próprio país teria que se publicar a mesma informação em vários ‘portugueses’ regionalizados?

Os autores afirmam que, o intuito de se ensinar a escrever da mesma forma que falamos, é facilitar o aprendizado daqueles que possuem dificuldades para assimilar a norma culta do nosso idioma. Eu acredito que não seria facilitar, mas sim dificultar, pois a falha na comunicação dentro de uma mesma cidade, por exemplo, poderia ser algo ainda mais corriqueiro e em alguns casos catastróficos. Pensemos bem: quantas pessoas de diversas regiões do país convivem conosco? Ao falar já temos algumas dificuldades para entender alguns regionalismos, porém se perguntarmos ao nosso interlocutor do que se trata determinada expressão obteremos uma resposta de mais fácil entendimento. Mas como perguntar para uma informação escrita anterior a nossa leitura? Ou ainda: suponha que venhamos a entrar em um site de uma instituição, por exemplo, de uma região diferente da qual vivemos e, lá, encontrarmos diversas expressões regionais sobre as quais não temos domínio algum. Isso não seria um empecilho para a nossa troca de informações?

Entendo que, se escrevêssemos realmente da forma que falamos, talvez fosse mais fácil assimilar alguns conceitos, porém não podemos esquecer de que deve sim haver uma linguagem padrão a qual todos tenham acesso, independente de morar no Rio Grande do Sul ou no Pará, no nordeste ou no centro-oeste. A linguagem regional pode ser aprendida em qualquer lugar, aliás, nós a aprendemos em qualquer lugar: no seio da família, numa conversa entre amigos, em todo canto do ambiente em que vivemos. Receio que não seja necessário modificar todo um idioma a fim de adaptar esse regionalismo às salas de aula. Um exemplo bem nítido de que, determinadas formas de se expressar, não é aprendida na escola, é o que comumente chamamos de ‘internetês’ usado por jovens do Brasil todo. Aquele verdadeiro ‘homicídio’ cometido com a língua portuguesa presente em sites juvenis, blogs, chats e afins não precisou ser lecionado dentro da sala de aula. E mesmo utilizando-se deste ‘recurso’ os jovens sabem da existência da norma culta, ou padrão, do nosso idioma e, quando se trata de algo formal, sabem utilizá-la.

Será que é mesmo necessário ensinar os alunos a escreverem: ‘Os livro da biblioteca tão imprestado’?

Aliás, qual foi a norma que utilizaram para ‘explicar’ a teoria do ‘Preconceito Linguístico’? Não foi por acaso a norma culta?

Será realmente necessário massacrar o nosso idioma oficial, criando ‘dialetos’ que, podem confundir e, até mesmo, impedir nossa comunicação escrita?

Eu ainda continuo pensando que não.

 Mas e você, querido Leitor ou Leitora?
Acha que nosso idioma precisa mesmo de mais uma ‘reforma’ deste tipo?

Responda nossa enquete!
 Voltaremos a falar sobre isso em breve.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

A SEGUNDA-FEIRA E O NOSSO TEMPO



Porque sempre acordamos ainda mais cansados nas manhãs de segunda-feira?
Você já deve ter reparado que, toda segunda, acorda exausto como se não tivesse descansado absolutamente nada no fim de semana que a antecedeu.
Porque isso acontece? Porque sempre temos, logo ao acordar, a impressão que o dia vai ser horrível? Porque sentimos um forte desejo de permanecer na cama, prolongando aquele tempinho em que estamos confortáveis? Por quê? O que nos leva a ansiar por um tempo a mais de descanso?

O Leitor pode estar pensando neste momento que, o que vai se desenrolar nas próximas linhas, é mais um discurso psicanalítico dizendo que acordamos cansados, e alguns de mau humor, nas segundas-feiras, porque nosso cérebro e nosso emocional se recusam a voltar a nossa rotina diária, visto o comodismo que pôde experimentar no descanso semanal.Porém, não o é. 


Não é por isso que estou aqui.


O Fato que me trás a este tema no dia de hoje é: Eu também sou Humano. E, como tal, também tenho as mesmas sensações, dificuldades e pensamentos que é comum a todo indivíduo da Humanidade.

 Hoje à mesa do café, estava discutindo com minha mãe sobre este assunto, então decidi escrever este post sobre as coisas que podemos aprender com essas dificuldades que enfrentamos a cada semana (e alguns, a cada dia). Embora, nem mesmo eu, soubesse ainda se poderíamos aprender algo realmente válido com isso. Mas, logo no começo do dia ocorreu-me um pensamento inovador.

 Você, querido Leitor, já reparou que nunca, ou quase nunca, temos um tempo ‘só nosso’(ou ao menos é essa a impressão que temos)? Ou reparou que quando temos este Tempo, ele se esvai tão rápido quanto fumaça? Pois bem. Talvez o grande motivo de nosso desconforto no amanhecer de cada semana seja exatamente este: a falta de um ‘tempo só nosso’. Porém, pode ser que o problema não seja no ‘Tempo’ propriamente dito. Mas, a forma como nós o vemos.

 - O que você está querendo dizer com isso Raphael?

Explico.

Costumamos desempenhar diariamente inúmeras tarefas.
Uns trabalham. Outros Estudam. Outros Trabalham e estudam!
E além de tudo ainda temos os ‘afazeres domésticos’ como arrumar a casa, o quarto, ajudar os pais, os irmãos, e outras tantas atividades que cabe a cada um de nós lembrar, e contar, quais são. 
E onde é que fica nosso tempo nisso tudo?
Exatamente aí. Onde deveria estar.

- Como assim ‘aí, onde deveria estar’?

Caso ainda não tenhas entendido, pense: o tempo que você ‘gasta’ com cada um desses afazeres, era para ser SEU. Certo?

E ELE REALMENTE É!

O tempo que você ‘gasta’ no seu trabalho É o seu tempo.
O tempo que você ‘gasta’ nos estudos, também É. Bem como o dos demais afazeres. Nós acreditamos que, só porque dedicamos nosso tempo a outras pessoas e/ou atividades, ele deixa de ser nosso. O que é um equívoco. Se soubéssemos vivenciar cada momento tornando-o único e prazeroso, não teríamos essa impressão de que, muitas vezes, estamos perdendo nosso tempo.
Se transformarmos o tempo que passamos com as outras pessoas novamente no ‘nosso tempo’, certamente nos sentiremos aliviados dessas tensões que nos afligem.

Não. Isso não é nem de longe fácil de fazer. Principalmente se uma ou mais destas atividades forem algo que você NÃO gosta de fazer de maneira nenhuma. Eu mesmo estava tentando aplicar essa teoria enquanto a desenvolvi (no meu trabalho), e não funcionou muito bem. Afinal, eu não trabalho naquilo que realmente gostaria. Porém, coloquei na minha cabeça que iria mesmo assim tentar aplicar esse novo pensamento antes de aconselhar alguém a fazê-lo. E lá vou eu tentar ser otimista, em uma segunda em que acordei cansado (como sempre), atrasado e, ainda, em um trabalho que eu não sinto prazer algum ao executar.
Tudo parecia ser inútil. Pensei até que tinha ‘perdido meu tempo’ pensando em uma solução para amenizar os efeitos negativos das manhãs de segundas-feiras. Até o momento que me ocorreu uma transação: eu não sinto prazer em trabalhar com as coisas que trabalho, mas e se eu reformulasse a minha forma de trabalhar? De modo que eu fizesse as coisas que não gosto de uma maneira gostosa de fazer. Eureca! Essa foi a solução para meus problemas (ou pelo menos em partes foi). Reformulei e fiz meu trabalho da forma que eu julguei conveniente para mim e para os padrões da empresa em que trabalho. Resultado: efeitos negativos da trágica segunda reduzidos a quase zero!


Se estiveres procurando um exemplo bem simples para entender melhor, aqui vai um: Se você não gosta de varrer...Já experimentou varrer ao som de sua música favorita, cantando e, até mesmo, dançando com a vassoura? Isso funciona bem não é? (Só não vá se empolgar demais com a música e esquecer de executar a tarefa que antes parecia tediosa =P)

- Espere um pouco. Você disse ‘QUASE zero’?? Então isso não é tão eficaz como deveria?

Bom, não é de se espantar que não desse 100% certo, afinal, nada pode ser tão perfeito assim, e eu não pretendo enganá-los com falsas expectativas. Sempre vai haver uma ou outra coisa (ou pessoa!) que não vai dar pra mudar totalmente. Mas uma coisa eu garanto: se reformularmos todas as nossas atividades (dentro dos limites que por vezes nos é imposto) de modo que consigamos fazer tudo de uma forma menos estressante e/ou divertida, conseguiremos, sim, ter uma segunda-feira e uma semana toda de melhores ânimos. Lembra o post de ontem sobre vencer e contornar os obstáculos agindo como um Rio que flui? Então. Acho que se aplica muito bem aqui: contornar os obstáculos que nos impede de ter nosso tempo de volta, quando não podemos simplesmente passar por cima deles, já é um bom começo.^^

 Uma vez estavam um jovem budista e seu mestre assentados á beira do pomar de tangerinas que havia no monastério. O mestre então apanhou uma para si e ofereceu outra ao seu discípulo. Nisso o discípulo começa a falar sobre quão farta seria a colheita que fariam dentre alguns dias. Sua empolgação era tanta ao falar que colocava um gomo de tangerina após o outro na boca, como se estivesse com pressa em terminar, para poder continuar a conversa. O mestre ao ver a agitação do jovem interpelou-o sobre suas atitudes. Ao que, o jovem respondeu:
- Mestre, temos todo um pomar de tangerinas. Porque eu deveria me demorar em comer uma única?
O mestre então respondeu:
- Para que possas apreciar o sabor. Simplesmente por isso. Você não sente o doce sabor da tangerina porque tem pressa. Como pretendes apreciar o doce sabor da vida e chegar à iluminação se nem ao menos para coisas mais simples você aquieta sua mente e o seu coração? Você deve se unificar com cada gomo, como se este fosse o último. Só assim você aprenderá, também a se unificar com a felicidade e com as coisas maiores que alcançar.

Bom acho que falar mais sobre essa pequena história seria... como se diz mesmo? Chover no molhado. Não é?

Acho que essa história resume a essência do que eu quis dizer.
Devemos nos unificar com cada momento. Com cada trabalho executado. Com cada segunda-feira. Com cada dia. De modo que nosso tempo volte a ser novamente NOSSO, ou melhor, que voltemos a enxergá-lo dessa forma. Porque, afinal, nosso tempo começa quando nascemos, mas não sabemos ao certo quando realmente termina.

Vivamos, mas vivamos bem!

Apreciemos o Tempo que temos. Não vamos deixar pra ser feliz ou sentir satisfeito depois, em um momento em que estejamos sozinhos (como por vezes desejamos). Mas, sejamos felizes agora! Juntos com outras pessoas. Pois ‘a felicidade é o bem que, quanto mais se divide, mais se tem’. Não é mesmo?


Um enorme abraço e uma boa semana a todos.
                   
                           Raphael Convoitise - ABSYNTHE

domingo, 17 de julho de 2011

SER COMO UM RIO QUE FLUI



Hoje de manhã, estava lendo um livro, uma coletânea de contos e lendas mundiais¹, e achei uma história muito interessante. Aliás, todas dessa coletânea são realmente excelentes e nos ensinam lições extraordinárias.
Mas uma, em especial, me chamou a atenção, por que se enquadrou exatamente em uma conversa que tive com um amigo recentemente.
Era um conto Sufi, cujo nome é: A Sabedoria das Areias. Para aqueles que não conhecem irei transcrevê-lo abaixo, e para aqueles que já conhecem nunca é demais ler de novo, né?  ^^

A Sabedoria das Areias

Desde sua nascente o rio fez seu caminho por todos os acidentes de caminho que encontrou. Cruzou regiões campestres, vales e pedras até alcançar as areias do deserto. Da mesma maneira que cruzou todos os demais obstáculos, o rio não duvidou que pudesse vencer mais este.
Porém, percebeu que mal suas águas tocavam as areias, nelas desapareciam.
Mesmo não conseguindo vencer as areias, o rio acreditava ser seu destino cruzar o deserto. Então as areias lhes disseram:
- O vento cruza o deserto. O mesmo pode fazer o Rio.
Mas o rio começou a se convencer de que, não adiantava jogar-se constantemente contra as areias. Nem mesmo a força ou perseverança o estavam ajudando naquela situação. As areias então disseram:
- O vento cruza o deserto. O rio precisa entregar-se ao vento.
O Rio não conseguia imaginar como seria entregar-se ao vento, ser absorvido por ele e perder a sua forma. Imaginou se, abrindo mão de sua forma, algum dia conseguiria tê-la de volta.
As areias lhe contaram como o vento transportava as águas dos rios em nuvens, como as nuvens se transformavam em chuva e como as águas da chuva se tornavam novamente em rio.
O Rio não acreditava naquilo que ouvia das areias. Então as areias o admoestaram:
- Se não acreditar, se tornará um pântano e não irá a lugar nenhum. Não tema, pois sua essência nunca mudará, mesmo sendo transportado pelo vento. Você teme se entregar ao vento porque não conhece sua essência.
As palavras das Areias ecoaram nas pedras do Rio. E ele, então, se lembrou vagamente de já ter sido algo diferente, de já ter conhecido o vento, embora não lembrasse quando. Mesmo não acreditando totalmente, o Rio elevou seus vapores às asas do Vento.
 Como é de sua natureza, o vento levou o Rio para montanhas longínquas.
Porque teve dúvidas, o Rio lembrou-se com mais clareza de sua essência, e não mais esqueceu de que já havia voado nas asas do vento. As Areias o lembraram bem, pois viam esta viagem dos rios todos os dias. Desde as margens até as montanhas, as Areias acompanhavam o Vento carregando o Rio.
 Por isso se diz que o caminho do Rio está escrito nas Areias do deserto.

 Nós não somos muito diferentes deste Rio personificado no conto Sufi.
Passamos pelos obstáculos que a vida nos impõe, mas quando nos deparamos com um obstáculo maior do que aqueles que estamos acostumados nos perguntamos se realmente somos capazes. Temos medo de fraquejar. E pior, temos medo de que se mudarmos nosso método de agir, percamos nossa essência, nossa identidade. E é justamente nesses momentos em que temos medo de nos perder que realmente nos encontramos. Não sabemos quem realmente somos até sentirmos medo. Medo de nos perder de nós mesmos (em nós mesmos!). Este conto ainda nos lembra da dificuldade que encontramos na autoconfiança e na confiança em outrem. O Rio teve de superar seu medo e sua breve humilhação em ter de admitir que sim, havia um obstáculo maior que ele. Teve de confiar sua essência às asas do vento. Não que ele não tivesse escolha, mas, convenhamos tornar-se um pântano de águas podres e estagnadas não é algo lá motivador. Quando nos deparamos com situações de difícil manejo, pode ser que nos vejamos na mesma situação do rio de nossa lenda: ou nos entregamos a uma solução alternativa, mesmo que ela seja em partes desconhecida, ou nos tornaremos um pântano estagnado de nossas próprias desilusões.
 A lenda ainda nos lembra que não podemos nos prender a um único padrão de pensamento. O Rio poderia relutar em aceitar uma alternativa proposta em um conselho, e insistir em ir em frente com bravura e força, afinal isso sempre funcionou antes. Eu acredito que o Caro Leitor, ou Leitora, assim como eu, já passaram por momentos em que foram verdadeiras ‘cabeças duras’ e recusaram qualquer palpite e opinião de alguém que, no fundo, só pretendia ajudar. Ser flexível a novos pontos de vista e pensamentos, não significa não ter personalidade ou ser fraco. Algumas vezes precisamos ser moldáveis como as águas. Precisamos ser como o rio que flui, enfrentando os obstáculos, contornando os que são possíveis e mudando nossa forma quando necessário. Assim como a água muda sua forma e permanece a mesma em essência, precisamos nos moldar para conseguir enfrentar as diversas formas de adversidades que encontraremos no caminho, sem que isso signifique esquecer quem realmente somos.
E o mais intrigante de tudo isso, o Leitor há de convir comigo, é o fato de, quase sempre, essas ‘soluções’ serem simples e óbvias na maioria das vezes. Estamos tão habituados a seguir pelo caminho mais difícil que, quando surge uma resposta simples não conseguimos identificá-la de imediato ou se identificamos, muitas vezes, nos recusamos a compreendê-las ou aceitá-las. O que faz parecer que temos genuíno apreço por situações complicadas e complicadoras. Precisamos treinar nossos olhos para enxergar, também, as coisas simples. Não é porque enfrentamos vales, pedras e corredeiras no rio da nossa vida que sempre as coisas terão de ser encaradas do ponto de visto mais crítico. E precisamos, ainda, treinar nossos ouvidos para ouvir mais as palavras que nos são ditas. E por fim treinar nossa fé. Sim, Caro amigo, eu disse Fé. Nossa Fé em nós mesmos, nossa fé de que vamos conseguir vencer mais um obstáculo, por maior e, aparentemente, intransponível que ele represente. A Fé nos ajuda a justificar o injustificável. Jamais conseguiremos chegar a algum lugar que não conhecemos se não tivermos Fé (a certeza incomprovada) de que vamos conseguir. Devemos ser moldáveis, flexíveis diante das situações, para só assim conseguirmos avançar em nosso caminho, nossa jornada rumo ao infinito. Eu não estou te dizendo que é fácil ser maleável, meu amigo. Porque, como disse anteriormente, já nos habituamos a seguir pelos caminhos mais tortuosos. Mas nada nos impede de tentar, tentar, tentar e reformular os caminhos que temos à nossa frente para seguir.
 O conselho que tiro desta lenda para mim, e pode ser válido também para ti, e que acredito já estar muito bem expresso desde o início, é que devemos SER [como] a água. Devemos ser um rio que flui, sem amedrontar-se diante de qualquer obstáculo. Pois por pior que uma situação represente, sempre haverá uma solução. Talvez não a vejamos de início, mas isso não altera o fato de que ela existe.

Observemos mais atentamente as coisas simples. Nelas podem estar as soluções para os problemas mais complexos.

Um grande e caloroso abraço e uma boa semana a todos.

                                          Raphael Convoitise - ABSYNTHE


nota: ¹ Este livro não se trata da publicação oficial de nenhuma editora. Foi uma coletânea feita por um amigo que decidiu encaderná-la no formato de um livro simples. Portanto não há como eu indicar o nome ou onde possam adquirir este fantástico livro.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

HARRY POTTER E AS RELÍQUIAS DA VIDA ( da Vida? - Sim, da Vida)


 Hoje, 15 de Julho de 2011, os fãs da série Harry Potter vão a loucura e ao desespero: A SÉRIE CHEGA AO FIM! Sim, depois de 10 anos após o lançamento do 1º Livro, para a alegria e tristeza dos Pottermaníacos o último filme, denominado Harry Potter e as Relíquias da Morte parte2, estréia hoje nos melhores cinemas do Brasil. 
 Mas, afinal, será que além de muitos fãs apaixonados e um leque de produtos com os personagens de J.K Rowlling estampados, a série deixou mais algum legado?
 Algumas pessoas, erroneamente, acham que por se tratar de livros/filmes infanto-juvenis, Harry Potter e suas aventuras não têm nada a nos acrescentar. Eu, particularmente, discordo. J.K. Rowlling em TODOS os livros de sua série, por meio dos personagens centrais e outras vezes por coadjuvantes, nos lembra do valor da amizade, dos valores e da fibra moral que devemos cultivar. Quem nunca quis ter amigos tão leais quanto Rony e Hermione? Quem não gostaria de ter a força de vontade e a coragem do Harry? Quem que, para o próprio bem dos amigos, teria a coragem de encará-los como Neville Longbottom fez ( em HP e a Câmara Secreta)? Essas são apenas algumas das centenas de mensagens que podemos assimilar da série. Mensagens e valores com os quais muitas vezes convivemos no dia-a-dia, mas que só nos damos conta da existência, quando os vemos repetidos na ficção. Porém, uma outra mensagem que, talvez possa ter passado despercebida pela a maioria das pessoas, foi um símbolo muito significativo presente em todos os Livros/Filmes: O Expresso de Hogwarts.
    O Caro Leitor, ou a Cara Leitora, pode estar se perguntando: o que há demais em um 'trem velho'?
 Explico, portanto, nas próximas linhas, por que foi que hoje, ao assistir os filmes mais antigos da série em preparo para o novo, minha atenção ficou detida no Expresso de Hogwarts.
 Como alguns podem saber, o Trem simboliza a Vida. Não, não estou falando de vida no sentido de fecundação e afins. O Trem simboliza o ato de viver.
 Eu, pessoalmente, acho este símbolo muito apropriado. 
 Vocês já repararam que pessoas entram e saem de nossas vidas exatamente como em um trem?
Algumas entram, sentam ao nosso lado, nos fazem uma boa companhia, nos fazem apreciar uma boa conversa. Outras estão mais preocupadas com suas próprias coisas ou com as pessoas e as situações a volta, ou distraem-se facilmente com as paisagens que passam pela janela da vida. Ainda há aqueles que chegam com uma grande quantidade de bagagens que acumulou consigo durante longas viagens, e acabam nos acrescentando muito com aquilo que trazem. Já outros, embora muitos caminhos já tenham percorrido, chegam de mãos abanando trazendo, por vezes, uma mala vazia e nada a nos acrescentar.
No decorrer do caminho, essas pessoas vão entrar e sair de nossas vidas. Umas vão se demorar mais que outras, e outras talvez não fiquem mais que o mais breve dos breves instantes. Algumas se sentarão enquanto outras apenas o(a) observaram de longe. E Poucas, muito poucas, serão as que estarão genuinamente dispostas seguir a viagem até o fim ao teu lado. E estes são os verdadeiros amigos. Seguirão ao teu lado até o dia em que precisares despedir-se e descer na última estação da vida (ou quando eles precisarem descer, depende do que ocorrer primeiro, né?)
 - Mas Rapha, o que isso tem a ver com Harry Potter?
 - Tudo e nada. Tudo porque, você reparou em que local, no primeiro livro, Harry, Rony e Hermione tem o primeiro 'contato'? Exatamente. O Expresso de Hogwarts. Não sei se por mera coincidência ou se foi intencional, mas J.K.Rowlling  uniu a vida dos três personagens centrais da história, justamente no símbolo da Vida. Repararam, também, que neste mesmo trem embarcam pessoas mais e menos ativas na vida de Harry?
Seus melhores amigos estavam ali. Seus desafetos (escolares) também. Todos no mesmo trem. Todos na 'mesma' Vida. O Expresso de Hogwarts simboliza ao mesmo tempo a Vida de todos e de cada um. Se tomarmos do ponto de vista de Harry Potter, este trem simbolizará a vida dele, mas se tomarmos o ponto de vista de outro aluno, como Draco Malfoy, Cedrico Diggory ou Gina Weasley por exemplo, o trem vai simbolizar a vida de cada um deles. Mas todos estão no mesmo trem. Na vida real as coisas também são assim. Estamos cada um dentro de seu próprio trem, que é ao mesmo tempo o trem do resto do mundo. O Expresso da Vida.
 -Mas isso que falei anteriormente também não tinha nada a ver com Harry Potter e suas aventuras. Porque ao ver o Trem no filme e recordar seu significado (que expliquei logo ali no inicio), eu comecei a refletir sobre minha própria vida. Em como é incrível as pessoas que embarcam e desembarcam de nossas vidas todos os dias, o tempo todo. Pessoas que nos deixam um pouco delas, outras que levam um pouco da gente consigo.
O Expresso de Hogwarts me fez olhar mais atentamente o Expresso da Vida e, aos poucos comecei a perceber que algumas pessoas estão no meu 'vagão' há muito tempo, mas não estão tão próximas como por vezes acreditei, enquanto outras que acabaram de embarcar, sentaram-se ao meu lado e realmente estão (ou ao menos parecem estar) dispostas a seguir essa viagem comigo até quando for viável. Me dei conta de que não é só esperar as pessoas embarcarem e vir falar conosco. Muitas vezes nós teremos de largar o comodismo de lado e nos deslocar até elas. Antes que a viagem passe rápido demais e venhamos a nos dar conta de quantas pessoas especiais estavam lá perto e só fomos nos dar conta quando a viagem já estava próxima do fim. E aquela que podia ser uma boa companhia durante todo o trajeto, poderá sê-la por apenas mais alguns instantes.
 Comecemos à analisar nosso trem agora, enquanto ainda é tempo. Porque, por mais lento que um trem possa parecer uma hora ele vai parar e teremos que descer.
 Bom, essa foi uma das lições que pude aprender com as aventuras de Harry Potter e seus amigos. Por mais que não tenha sido com a aventura propriamente dita, mas com um detalhe dela apenas (um detalhe recorrente em todos os livros/filmes por isso chama a atenção, diga-se de passagem), mas que me fez refletir toda a minha vida em apenas alguns minutos. Essa é uma das Relíquias da Vida que recebo como legado de Harry Potter.
 Se analisarmos bem, veremos centenas de outras espalhadas por ai, em cada cena, em cada linha...
Portanto, a série terminando ou não, Harry Potter e suas Aventuras já deixou bem mais que uma legião exorbitante de fãs apaixonados, produtos com suas marcas e a fortuna de J.K. Rowlling (que foi a primeira pessoa no mundo que conseguiu ficar BILIONÁRIA, vendendo livros, eita mulher!) como legado. 
 Harry Potter além de saudades nos deixa também lições de vida.
 
Nos deixa As Relíquias da Vida.


                                                                       Raphael Convoitise - ABSYNTHE

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Quando Nossas Asas se fecham


Uma vez eu e alguns amigos passamos por uma rua , onde havia duas crianças embaixo de uma marquise tentando se abrigar, ainda que pouco, do clima gélido e dos ventos cortantes como lanças, que reinavam onipotentes naquela noite. Um deles possuía um agasalho, roto, mas que ao certo serviria para inibir um pouco aquele rigoroso inverno.O que estava sem o agasalho, e a mim pareceu ser o mais velho, tremia de frio. O outro percebendo os tremores incontroláveis do irmão, tirou então o agasalho do corpo e ofereceu à ele, que recusou firmemente alegando ser mais forte, por ser maior, dando um leve sorriso na tentativa de convencê-lo a permanecer agasalhado..

O menino levantou-se disposto a obrigar o irmão mais velho a vestir seu agasalho mesmo contra a sua vontade e disse que, Ele (o mais velho) era a única pessoa que ele tinha no mundo, e que se ele ficasse doente e morresse não haveria ninguém para cuidar dele, e além do mais, ele já não sentia mais frio.E se sentisse o irmão poderia abraçá-lo melhor já que seus braços eram maiores.Nisso ambos começaram a rir.

Meus amigos não se deram conta da cena atual, que estava ali, paralela a nós.Conversavam sobre coisas que á eles eram importantes.Mas, eu não pude deixar de notá-la. Foi uma cena comovente, feliz e ao mesmo tempo triste.

Eu, que possuo muitos outros agasalhos em casa poderia ter tirado o que vestia naquele momento e ter dado ao que estava sem nenhum, mas pensei que poderia acabar estragando aquela cena de mais genuíno amor. E além do mais aquele agasalho havia sido ganho de alguém especial para mim. Só hoje, quando voltei a refletir sobre este assunto pude ver duas verdades maravilhosas.

Primeira: Aqueles meninos não tinham teto, nem roupas novas ou bonitas, nem dinheiro, nem uma família completa a qual todo ser humano deve ser digno. Talvez nem fossem irmãos de sangue, na verdade. Mas, tinham cumplicidade, companheirismo, felicidade. Não aquela falsa felicidade que a maioria de nós exibe todos os dias, nos falsos sorrisos, nos frouxos abraços, no falso contentamento de uma vida amena, mas a felicidade sincera e serena pelo simples fato de se ter um ao outro. Mesmo diante de tantas adversidades, de tanto menosprezo, de tanta dor, eles eram felizes por saberem que tinham um ao outro, e que se amavam tanto que até mesmo a dor do frio serviria para aproximá-los mais. Eu lamento que a maioria do mundo tenha esquecido e tenha deixado esfriar a verdadeira felicidade, o verdadeiro amor ao ponto de terem se tornados cegos. Cegos para a dor do próximo, cegos para o amor do próximo, cegos para si mesmos, cegos como eu estava sendo naquele momento.

A segunda verdade é que, no meu egoísmo de querer agir apenas como espectador daquela cena marcante, recusei-me a tirar meu agasalho e oferecê-lo a quem precisava. Não queria interferir naquela cena, perfeita na sua imperfeição, mas sobretudo não quis me desfazer de algo que tinha tanto valor sentimental para mim. Só hoje pude ver quais eram as escamas que cobriam meus olhos e me impediram de ver o quanto eu estava sendo egoísta, o quanto fui mesquinho ao não querer desfazer-me de algo material devido sua importância emocional e de ter ficado cego ao ponto de ir mais longe e usar de uma meia-verdade para encobrir minhas atitudes, no fundo, a verdade, não é que eu não quisesse desfazer o quadro que tinha em minha frente e sim que não queria desfazer-me de algo tão importante para mim. Mas, hoje, posso ver com clareza que, por mais importante que um objeto, ou outra coisa qualquer, nos seja, se soubermos fazer dela uma imagem única e eterna não importa a forma como nos desfizemos dela, ela sempre será importante. Se eu tivesse tirado meu agasalho e tivesse entregado àquele menino, o mesmo agasalho que é importante para mim, teria sido importante para ele. O valor material que ele tinha, teria se ido junto com ele, mas o valor sentimental teria ficado, pois este, não importa a circunstância, sempre permanece, se soubermos eternizá-los em nossas vidas.

Uma vez eu li que somos todos anjos de uma asa só, e que, somente abraçados conseguiremos alçar voo.Isto é, somente se nos ajudarmos uns aos outros conseguiremos algum dia chegar á algum lugar.

Mas, o que acontece quando nossas asas se fecham?

Você já parou pra pensar?

Eu deixei minhas asas fechadas e não voei, não ajudei quem precisava e, quando tomei consciência disso de uma forma muito dolorosa, quando desfiz a névoa da ignorância e do apego que cobriam meus olhos, já não pude fazer nada, nunca mais encontrei os garotos e isso me dói muito até os dias de hoje. Mas, de certa forma, essa situação serviu para me ajudar. A sábia Águia que é a vida, me jogou para fora do ninho, agora não tenho escolha: ou abro as minhas asas e voo, ou irei cair.

Mas, e você?

Vai abrir a suas asas pelo amor ou pela dor?

Você não pode ficar no ninho pra sempre, você tem que conhecer a verdade do mundo lá fora, sentir a dor, sentir o amor...

Você tem que viver!

Raphael Convoitise - Absynthe

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