domingo, 26 de fevereiro de 2012

A Origem dos Homens

A Origem dos Homens


Prometeu sempre teve um pendor para as artes plásticas. Seu pai era o velho Japeto, um dos titãs, cuja origem se perde na noite dos tempos. Era tão velho que emparelhava em idade com Cronos, o pai de Zeus, e ninguém sabia precisar direito como e de onde surgira. O fato é que o velho sempre nutrira uma admiração secreta por seu habilidoso filho.
Este Prometeu promete! – dizia, repetindo pela milésima vez esse cansativo trocadilho.
Ásia, esposa de Japeto, escutava pacientemente os prognósticos do marido, mas não podia deixar de concordar com o seu otimismo. Não raras vezes flagraram o menino metido no barro, modelando com habilidade seres das mais diversas formas.
Com o tempo, Prometeu cresceu, até atingir a fase adulta. Agora, já com seu atelier montado, era respeitado em toda a corte celestial, como notável artífice.
Um dia chegou um mensageiro todo-poderoso à sua porta dizendo:
Prometeu, Zeus decidiu criar um novo ser, sobre a Terra, de tal modo importante, que há se assemelhar em tudo aos próprios deuses.
Um deus de segunda categoria? Para quê?, perguntou o artista a sim mesmo,
Prometeu, entretanto, não opinava sobre as tarefas que recebia, mas procurava tão somente cumpri-las da melhor maneira possível.
Assim sendo, aceitou imediatamente a incumbência. No mesmo dia encerrou-se em sua oficina, depois de colocar um aviso bem grande na porta destinado a afastar os importunos. Esta criação, bem o sabia, estava destinada a ser a sua obra-prima, e por esta razão decidiu caprichar ao máximo na sua elaboração.
Prometeu cria o homem
Prometeu cria o homem
Depois de trabalhar por vários dias, deu enfim por concluída a tarefa. Embrulhou a imagem do novo ser, que batizou de Homem, e já ia levando para que Atena, a sabedoria divina, lhe insuflasse a alma, quando esbarrou acidentalmente na porta, deixando cair a peça ao chão.
Abalado com o desastre, Prometeu retirou o lençol que envolvia o trabalho e viu que sua criatura perdera uma de suas três maravilhosas pernas.
Que desastre lamentável!, exclamou, desconsolado.
Mas como estivesse muito apressado, pois a data de entrega da obra havia expirado há vários dias, resolveu levá-la assim mesmo, com duas pernas apenas. A perna do meio, contudo perdera-se para sempre.
Mesmo assim, lá foi ele, orgulhoso, com sua obra-prima. Todos os deuses foram unânimes em aplaudir a sua criação. Os elogios eram como uma chuva benfazeja, de tal modo que Prometeu tomou-se mais ainda de amores pela obra.
Decidido, porém, a fazer daquela criatura um ser privilegiado, Prometeu decidiu subir até os céus e roubar ao carro do sol uma pequena chama.
- Veja!, disse ele a Atena.
- Com o domínio deste fogo, o homem será superior a todas as demais criaturas!
Os descendentes deste primeiro homem, no entanto, logo entraram em desavença com o pai supremo, Zeus.
Zeus, encolerizado, decidiu puni-los retirando dos homens o fogo, que lhes dava o calor necessário aos seus corpos desprovidos de penas ou de pêlo espesso. Deste modo o homem também ficava privado do elemento fundamental para que pudesse continuar a fabricar suas armas e ferramentas.
As forjas silenciaram em todo o mundo, e durante algum tempo as bigornas e os martelos estiveram momentaneamente pacificados.
Quando a noite descia sobre a Terra, as pessoas corriam a se envolver em suas peles, buscando o abrigo das suas cavernas geladas e escuras. Sem o fogo para cozinhar os alimentos, tiveram também os homens de retroceder ao hábito de comer alimentos crus.
Prometeu, vendo que o ser que saíra de suas mãos padecia de incríveis sofrimentos sem indagar da causa que o levara a este lamentável estado, decidiu roubar outra vez aos céus uma fagulha do divino elemento.
Cuidado, pense duas vezes antes de afrontar novamente a ira divina!, disse-lhe Atena, em tom de advertência.
Prometeu, no entanto, surdo aos avisos da deusa, preferiu correr o risco.
Aproveitando o escuro da noite, enrolou-se num manto e subiu aos céus, até onde o sol repousava de sua longa viagem. Aproximando-se pé ante pé, puxou das vestes um tição apagado e o acendeu nas costas do astro, que dormia a sono solto.
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Tapando com a mão a minúscula chama, veio de volta à Terra. Antes que o dia amanhecesse outra vez, uma imensa fogueira ardia bem no centro da Terra, onde os homens felizes, foram recolher o fogo bendito para esquentar seus corpos e fabricar outra vez suas armas e utensílios.
Mas Zeus, ao saber do fato, irou-se de vez.
Aquele maldito intrometido saiu outra vez em defesa de seus protegidos!, disse o deus, puxando os cabelos.
- Mas, desta vez, seu ultraje não ficará sem resposta!
No mesmo dia ordenou que aprisionassem Prometeu a um rochedo no Cáucaso.
Quero que ele esteja para sempre preso àquela pedra!, exclamou Zeus, furioso.
Ordenou, ainda, que soltassem sobre a região, um terrível abutre, cuja degradante função seria a de devorar, incansavelmente, o fígado de Prometeu. Assim se fez.
Em menos de um dia, Prometeu viu-se acorrentado ao imenso rochedo, enquanto um abutre de hora em hora descia para lhe comer o fígado.
Nem bem a ave nojenta terminava sua tarefa, o fígado de Prometeu reconstituía-se, milagrosamente, fazendo com que a ave insaciável retomasse a sua função, tornando, deste modo, infinito, o suplício do pobre amigo dos homens.
Durante muitos anos Prometeu esteve submetido a essa horrenda tortura, quando um dia uma voz cavernosa ecoou sobre sua cabeça:
- Aprendeu agora a lição, Prometeu?
O filho de Japeto, no entanto, virou o rosto, em sinal de desprezo.
Zeus tentou ainda comprar-lhe o silêncio, prometendo que o libertaria de seu suplício caso ele se comprometesse a esconder dos homens o segredo da obtenção do fogo.
Prometeu, mais uma vez, recusou-se a responder, pois ele não cedia nem a ameaças nem a ofertas.
Mas seu castigo, afinal teve um fim um dia.
Prometeu acorrentado - Rubens
Prometeu acorrentado - Rubens
Hércules, filho de Zeus, numa de suas inúmeras aventuras acabou matando o abutre que torturava de modo tão cruel o pobre Prometeu.
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Depois, já ia o herói arrancando-o de suas correntes quando a voz de Zeus soou:
- Isto é impossível que se faça!, disse Zeus, embora já se mostrasse disposto a perdoar o infeliz Prometeu.
- Uma vez que eu afirmei que ele jamais se separaria deste rochedo, assim terá de ser até o final dos tempos.
Hércules, sem poder ir contra a vontade do próprio pai, já se dispunha a abandonar Prometeu no rochedo, quando este, sentindo voltar toda a sua anterior esperteza disse assim ao seu algoz:
Tenho uma solução que talvez resolverá meu problema, disse ele a seu libertador, sem voltar os olhos para Zeus, mantendo com relação a ele o seu silêncio digno e ofendido.  Afinal, depois de ter o fígado roído por milhares de anos por uma ave pestilenta, não é da noite para o dia que se pode simplesmente fazer as pazes com o mandante de uma tal atrocidade.
- Rompa os elos de minhas correntes e faça com um pequeno pedaço dele um anel, disse Prometeu a Heracles.
Hércules assim o fez. Em instantes fabricou um pequeno e elegante anel.
- Ótimo!, disse Prometeu.
Depois, arrancando do grande rochedo uma minúscula pedra, soldou-a ao anel.
Pronto!, disse Prometeu.
- Agora permanecerei de qualquer modo sempre preso a este maldito rochedo.
Zeus, admirando secretamente a inteligência da vítima, preferiu silenciar e encerrar de uma vez a longa disputa.


Esta postagem é uma contribuição de Pallas.

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