Netuno e os Lenhadores
Dizem que, há muitos anos, um lenhador rachava lenha na beira de um rio. De repente, o machado com que trabalhava escapuliu de suas mãos e caiu na água. Ele procurou, mas não conseguiu achar. Muito infeliz, sentou-se numa pedra e começou a chorar:
—Ai, o que vai ser de mim agora? Sem a minha ferramenta de trabalho, como posso trabalhar e sustentar minha família?
Então, nas águas forma-se um rebuliço, e delas surgem o Senhor dos oceanos em pessoa, ele havia ouvido seus lamentos e viera ajudá-lo.
—Não chore – dissen Netuno. – Eu acabo de encontrar o seu machado. Não é este aqui?
Dizendo isso, o deus botou a mão dentro d’água e retirou lá de dentro um magnífico machado de ouro.
—Não, senhor... – respondeu o lenhador. – Meu machado é muito mais simples.
Netuno depositou com cuidado a ferramenta na margem do rio. Em seguida, mergulhou e voltou trazendo outro machado. Desta vez, todo de prata. Sorrindo, falou:
—Claro, como é que eu pude me confundir assim? O machado que você perdeu é esse aqui, evidentemente.
O lenhador ficou até sem jeito de contradizer um senhor tão distinto, de aparência tão majestosa. Nem desconfiava que era o próprio deus Júpiter. Mas criou coragem e afirmou:
Desculpe, mas também não é este. O meu machado é velho, de cabo de madeira, e está um pouquinho enferrujado. Só serve para fazer lenha.
Então o deus guardou o machado de prata junto ao de ouro, na margem do rio, e mergulhou outra vez. Quando voltou, mostrou ao homem a sua ferramenta velha. Ele agradeceu, todo feliz:
Isso mesmo! Que bom que o senhor encontrou! É esse aí... muito obrigado...
Satisfeito com a honestidade do lenhador, Netuno lhe disse:
—Pois então pode ficar também com os outros dois machados. Faça com eles o que quiser. São seus, eu lhe dou de presente.
E desapareceu, tão misteriosamente como tinha surgido.
O homem saiu dali saltitante, de tão contente. Só não pulava mais porque estava carregando o peso daquele tesouro.
Logo adiante encontrou um grupo de colegas, que ficaram espantadíssimos por vê-lo com todo aquele ouro e aquela prata nas mãos. O lenhador contou o que tinha acontecido.
Um deles, metido a esperto, deixou os amigos ouvindo a conversa e foi saindo de mansinho em direção ao rio.
Quando chegou ao local onde o amigo dissera que tinha perdido o machado, fingiu que sua ferramenta também tinha escorregado de sua mão e a deixou cair na água. Na mesma hora, sentou-se na pedra ao lado e começou a chorar, aos berros, fazendo o maior escândalo:
—Ai de mim! Sou um desgraçado! Perdi meu machado e agora não posso mais trabalhar!
Como ele esperava, logo surgiu Netuno e lhe estendeu um machado de ouro.
—Que bom que o senhor achou! É esse mesmo! – disse ele parando de chorar e estendendo a mão para pegar o cabo da ferramenta.
Mas Netuno ficou tão zangado com a ganância e a falta de honestidade dele, que jogou o machado de ouro no fundo do rio e ainda fez a correnteza ficar tão forte que carregou para sempre o verdadeiro machado do lenhador.
Essa postagem é uma contribuição de Pallas.
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